JACINTO - PARTE IV


" Ele não fala muito.. Tem um temperamento especial..." desculpa-se a mãe " Vamos deixá-lo trabalhar. Muito obrigada por tudo." e estende-me a mão que aperto.

" Adeus, Francisco. Volta sempre que quiseres!" mas o miúdo não me olha e eu não sei se me ouviu.

Enquanto trato das orquídeas, penso no que a mãe disse.  Não fala muito? Temperamento especial?

Mudo? Autista? Asperger? Qual deles? Inclino-me mais para autismo. Pobre miúdo! lamento, mas entretanto, a viúva chama-me e passo o resto da tarde a falar dos meus planos para o jardim.

Ela concorda que plante arbustos perto do muro e fica entusiasmada quando lhe conto que vou plantar novas roseiras.

" Ah, vai ser muito bom ver este jardim novamente com vida!" confessa-me " A paixão dele eram as orquídeas, mas manteve sempre o jardim limpo e florido. Obrigada!"

Não respondo...  Não sei verdadeiramente o que dizer...

" Não digas nada!" aconselha-me a minha Mãe quando lhe conto o que se passou " Dá-lhe o jardim mais bonito do Mundo para que ela se sinta em paz!"

CONTINUA

Comentários

Sofá Amarelo disse…
Estás a abordar um tema que os escritores jamais abordam, porque por um lado não têm conhecimentos, por outro têm receio de se meter por campos que desconhecem... a não ser que tivessem passado directamente por um caso desses... na verdade, a vida segue paralela a muitos casos destes que descreves, mas as pessoas não "olham", não porque tenham medo que se "pegue", mas porque têm outros objectivos, outras "urgências"... e, no entanto, tanto que se pode aprender com estas pessoas, que dizem muito mesmo quando se quedam mudas...

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