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A mostrar mensagens de janeiro, 2017

A REUNIÃO - O FIM

Geralmente, a Eduarda aparecia logo a oferecer café e uma fatia de bolo, mas hoje não se ouve nada vindo da cozinha. O Machado convida-nos a sentar; parece que envelheceu dez anos. O olhar está parado, arrasta os pés e senta-se com dificuldade. " Estão cá por causa da porta?" indaga, mas não esboça qualquer sorriso.  " Sim, ao que parece, foi uma grande confusão. A Susana não podia entrar, a D Filomena não podia sair e tiveram que chamar um serralheiro!" respondo bruscamente " Este assunto devia ter sido discutido na reunião e vou ter que convocar uma extraordinária, até porque alguém terá que pagar a deslocação do serralheiro...." continuo, mas o Meireles interrompe-me: " Sabes alguma coisa sobre o que se passou?" e o Machado olha-o com tanta dor que me arrependo de ter falado tão bruscamente. " A Eduarda saiu hoje de casa... Não volta!  Tivemos uma grande discussão e deve ter sido ela quem fechou a porta ao sair... Talvez para m

A REUNIÃO - PARTE IV

A conclusão é óbvia: foi o Machado que fechou a porta.   Mas esse não é o verdadeiro problema; é o que aconteceu depois. Houve interferência na vida das pessoas e estas esperam uma resolução imediata do assunto. A porta tem que sair ou se ficar, terá que funcionar noutros moldes. Resignado, mando um mail aos proprietários a marcar uma reunião extraordinária " devido à situação caricata vivida hoje no prédio" e telefono ao Meireles. Este ri-se dos acontecimentos, mas concorda com a minha decisão de convocar uma nova reunião e aceita ir comigo falar com o Machado naquela noite. " Se foi ele, vai ser ele a pagar a conta do serralheiro!" digo, mas o Meireles aconselha-me a ter calma e a decidir isso depois de falar com ele. Por isso, depois do jantar, eu e o Meireles tocamos-lhe à porta. O Machado demora algum tempo a abrir e ficamos surpreendidos por só haver luz na sala. CONTINUA

A REUNIÃO - PARTE III

" Um affair??? Quem, aquela mosca morta da Eduarda que mal fala? " Susana volta a rir e eu aviso: " Olha as crianças!" mas também eu começo a ver o lado cômico da situação e desato-me a rir. Aproveitamos ao máximo o fim de semana, pois a Susana entra ao serviço no domingo às oito da noite. Depois de acalmar as crianças e as convencer a dormir, leio um bocadinho e apago a luz cedo.  A manhã de segunda feira é sempre complicada, mas dou por mim a pensar nas razões por detrás da preocupação do Machado com a porta. " O homem não regula bem da cabeça... Questiona tudo, não propõe nada..." divago, mas o telefone interrompe-as. Trabalho como louco o resto do dia e já nem estou a pensar no Machado e nas preocupações dele quando recebo um telefonema estranho da Susana. " Diz-me uma coisa: a porta estava aberta quando saíste esta manhã? pergunta. " Estava... Porquê? O que se passou? " replico e a Susana diz que encontrou a porta fecha

A REUNIÃO - PARTE II

Apresento as propostas, esclareço os prós e contras.  Quando dou a reunião por terminada, já passa da uma da manhã e até já o valor da quota extra está estabelecido. Eis que o Machado volta a falar da porta.  Exasperada, a D Rute diz: " Nem pensar!!! Para mim, chega! Estou cansada e vou para cima! Boa Noite!" e saí na companhia da D Filomena. " Mas acho que é importante... Está em causa a segurança!" repete o Machado.  O Meireles dá-lhe uma palmada nas costa e sugere: " Esqueça o assunto! A D Rute tem razão; é tarde, estamos todos cansados!" e abandona por sua vez a sala.   Espero delicadamente que o Machado também saia para fechar a porta. Ele fá-lo com uma lentidão impressionante e ainda para para me recomendar que devo mencionar na acta que ele falou na porta. " Esteja descansado!" digo e nem espero pelo elevador. Subo as escadas e entro em casa como se alguém me perseguisse. A Susana ainda está acordada e ri-se quando lhe

A REUNIÃO

A reunião está ao rubro.  Falam alto, rejeitam sugestões e trocam insultos e eu sinto a cabeça a latejar. Tento acalmar os ânimos, mas ignoram-me por completo e acabo por resolver o assunto à moda antiga. Dou um valente soco na mesa e todos me olham assustado. O Meireles reage de imediato, dizendo: " Oh, Brites, enlouqueceste de vez? " ao que respondo apressadamente: " Sim, devo ter enlouquecido.  Temos assuntos importantes a tratar e vocês só falam da maldita porta!" " É por razões de segurança!" sugere o Machado, mas eu abano a cabeça e digo: " Mas não acham que devemos resolver a questão do telhado? Há telhas partidas, a estrutura está podre e tem que ser substituída.  O 5º andar está a queixar de infiltrações..." " Mas o que fazemos em relação à porta?" insiste o Machado e a D Rute do primeiro andar direito comenta: " Esta porta não é necessária! Devemos, mas é substituir a porta da rua e colocar as caixas de

DEPOIS DO JULGAMENTO - O FIM

O " Silencioso" resmunga qualquer coisa quando lhe conto. Também não fica satisfeito quando lhe falo do jogo que organizei para aquela noite numa quinta nos arredores da cidade. " Não sei se é seguro! Ainda por cima , falaste no Bar!" censu ra. " Não há pro blema ! A sala está fechada para remodelação ! E a quinta é segura; assegur ei-me disso!" explico. O " Silencioso" não diz nada... Em que pensa?  Estou a ficar nervoso. " Não, não contes comigo!" e desliga. " Malcriado!" penso, mas como já estou atrasado , agarro no casa co e na chave do carro e saio. O jogo é um su cesso e estou t ão cansado que até me deito vestido. Quan do acordo por volta do meio dia e abro o j ornal, nem quero acreditar... Não é que o " Cintilante " é o " Silencioso"? Pouco depois o telefone começa a tocar e todos estão incrédulos com a notícia. E eu fico a pensar no verdadeiro significado da visita do Inspe

DEPOIS DO JULGAMENTO - PARTE IV

Retenho a respiração por uns segundos e penso: " Este homem é mesmo bom!" Considero dizer uma mentira qualquer, mas decido dar apenas uma resposta vaga, sem me comprometer. " Talvez não seja, Inspector! Mas sei que não veio cá para falar nisso!" sublinho. " Tens razão, Zé!" concorda Leandro " Quero apenas fazer-te uma pergunta sobre a noite." " A noite?" repito incrédulo.  " Sim, os locais favoritos, as pessoas presentes. Tu sabes o que eu quero dizer." insiste Leandro. " Onde queres chegar?" sussurro baixinho. " Se conheço o Cintilante?" e alto, comento: " Não sei muito! Frequento o Bar do Cais, sei que o Restaurante Togas está na moda e abriu há um mês e pouco um outro, mas ainda não tive oportunidade de lá ir. Quanto às pessoas, o grupo que frequenta o Bar do Cais é gente de respeito." concluo. Leandro não está muito satisfeito com as minhas respostas, mas não me pressiona.

DEPOIS DO JULGAMENTO - PARTE III

É efectivamente o Inspector Leandro, o " homem da Capital ".  Dizem os entendidos que  procura o "Cintilante". Quem é o " Cintilante"? Não sei, mas ouvi dizer que e scapou há um mês e meio a uma rusga organizada pela Brigada dos Narcóticos e pode ter fugido para aqui. Agora que sei que não sou eu o suspeito, respiro calmamente, mas n ão entendo muito bem porque é que me bate à porta naquela sexta-feira. Durante uns minutos, não diz nada; admira apenas a decoração da sala que mantive simples. Depois senta-se no sofá encostado à parede e eu sorrio.  Daquele local, ele pode observar o jardim e o corredor. Sento-me à frente dele e pergunto: " O que o traz cá, Inspector?"  " Pois, Zé ou devo dizer Manuel Vicente?" comenta com um sorriso. " Sabe muito bem que o meu nome completo é José Manuel Vicente e que Zé do Laço é apenas uma alcunha! E creio que não veio discutir isso comigo, Inspector." respondo. " Sim,

DEPOIS DO JULGAMENTO - PARTE III

Nessa mesma noite, recebo um telefonema inesperado. É o "Silencioso", um dos jogadores da Mesa Alta que aposta quase sempre o mínimo da aposta exigida. Não fala muito, mas é astuto e observador.  Fico em estado de choque quando me aconselha a adiar o jogo do próximo fim de semana. " Mas porquê?" insisto e o "Silencioso" demora a responder.  Não sabe se deve confiar em mim; afinal, só organizo os jogos e nunca aposto. " Soube-se que está cá um Inspector da Capital.  Não sabemos exactamente as razões da visita dele, mas não queremos surpresas."  " Um inspector da Capital? E é essa a razão porque não podemos organizar o jogo? " pergunto.  " É essa a razão! Faça o favor de avisar os outros jogadores e diga que não sabe a data do próximo jogo!" e desliga sem me dar mais explicações. Fico parado no meio da sala, a pensar na comissão que vou perder por não se organizar o jogo pela razão mais estúpida que se pode ima

DEPOIS DO JULGAMENTO - PARTE II

A vida começa a ter sentido e relaxo... Demais, pois quem vou encontrar na fila para pagar o estacionamento? O Inspector Leandro... Tal é a surpresa que deixo cair o porta-moedas. Todos olham e claro que o Inspector me reconhece e diz amavelmente: " Olha, olha...O meu amigo Zé! Por aqui?" " Pois é, o Mundo é mesmo pequeno.  E o Inspector? Foi transferido ou está apenas de visita?" pergunto delicadamente. " De visita, Zé... E tu? Não te vejo desde o..." Céus, espero que não fale do julgamento; essa parte da minha vida não existe aqui. " Quando nos encontramos no Hotel das Fragas." digo num momento de inspiração. O Inspecto r f ica calado, olha-me fixamente e eu tenho vontade de desaparecer. Felizmente, é a vez dele pagar e considero a hipótese de fingir que me esqueci de qualquer coisa e voltar ao Centro Comercial . "Não, não, pensa, idiota, não a chas que ele consideraria isso suspeito e não avisaria as autoridades loca

DEPOIS DO JULGAMENTO

Não, não emigrei para o Dubai. Aquele calor, a areia... não, não é o meu estilo.    Mas não fiquei na capital depois daquele julgamento ridículo.  Quero estar longe de toda aquela gente, a que me conhece e a que sabe apenas o meu nome. Não quero entrar em esquemas duvidosos; quero ter paz e sossego.  Mereço depois destes meses atribulados. Por isso, aqui estou numa cidade pequena no interior, onde ninguém me conhece e eu não quero conhecer ninguém... Um homem como eu não resiste à noite e hoje procuro a vida nocturna da cidade. Não demoro muito a perceber que o Bar do Cais é o local ideal para beber e relaxar. Há uma sala de jogos secreta e em breve ganho a confiança dos jogadores. Passo a ser eu a organizar os jogos... CONTINUA