AS REGRAS


Era uma vez...

Um menino que não gostava de regras.

Não entendia porque é que tinha que lavar as mãos antes de comer ou vir para casa quando começava a chover.

Ou porque é que tinha que interromper o jogo, o jogo que estava a ganhar, porque eram horas de ir para a cama.

Porquê? Era a sua pergunta favorita e muitas vezes, não obtinha qualquer resposta.

" São regras!" explicava o irmão que obedecia a todas, sem as questionar.

Mas, um dia, tudo mudou. 

As pessoas apareceram vestidas de preto, falavam baixo e o avô, muito sério, disse-lhes para se portarem bem.

Intrigados, os dois irmãos sentaram-se na varanda. À espera de uma explicação que lhes foi dada por uma mãe chorosa e que repetia no fim de cada frase que "tinham que ser fortes".

O menino ia perguntar: "Porquê?" mas compreendeu, naquele momento, que não o devia fazer.

Não se tratava de uma regra; era algo mais forte que exigia toda a sua atenção e compromisso - a dor.

Silencioso, deslizou do banco e abraçou a mãe que chorou ainda mais.

O irmão nada fez. Fugiu, escondeu-se na casa da árvore e quando o encontraram horas mais tarde, era uma pessoa diferente.

Tornou-se agressivo, desobediente. 

 Como se culpasse as regras pelo que tinha sucedido ao Pai naquele dia de tempestade...




Comentários

Graça Pires disse…
Uma história muito bela, Marta. O menino que parecia mais obediente era afinal mais introvertido e por isso não aceitou o que achava não merecer... Gostei imenso.
Uma boa semana.
Um beijo.
Sofá Amarelo disse…
Um tema que muita gente tem dificuldade em abordar... e afinal ele existe, mesmo que não se queira. O próprio Rui Zink já escreveu sobre o tema mas a crítica não compreendeu... porque é um tema difícil, é certo, e as palavras podem não conseguir definir o que se pretende... mas tu aqui neste texto conseguiste mostrar uma situação que acontece, está a acontecer, de uma maneira suave e que se entende bem... e quanto às regras elas não podem existir quando o mundo que nos cerca deixa ele próprio de ter... regras...
Agostinho disse…
No meu tempo era, foi assim, tal-e-qualmente. Uma história triste-bonita, Marta. Foi, é e continuará a ser.
Bj.

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